sábado, 4 de julho de 2015

Por que não matar as nossas cobras







BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS
Barra Velha e São João do Itaperiú SC







Desde as mais antigas estórias, as serpentes têm sido para o homem objetos de curioso fascínio, como causadores tanto de medo quanto de veneração. A própria bíblia, em seu simbolismo, não deixou de usar uma cobra como veiculo do mal. Alguns pesquisadores como WILSON (1984) chegaram mesmo a pensar a ofidiofobia como um produto da própria evolução humana. A intensa sensação que as cobras provocam nos seres humanos foi salientada por MORRIS & MORRIS (1965), ao se referirem às afirmativas de 11.960 crianças que responderam a um questionamento da televisão da Grã-bretanha, no qual se indagava quais os animais que menos gostavam; 27% das crianças citaram as serpentes. 

            DODD (1987), baseando-se nos registros de literatura especializada, revela que 186 espécies e subespécies de serpentes da terra estão ameaçadas ou necessitam de conservação ou manejo.  Segundo WILCOX & MURPHY (1985), a maior ameaça às serpentes é a destruição de seu habtat, o que resulta na eliminação física tanto dos animais como de seus ecossistemas. Com a fragmentação das populações restantes que têm seus tamanhos reduzidos, há perda potencial de sua diversidade genética. O comercio internacional de serpentes, para fabricação de itens e acessórios, ou ainda sua venda como animais de estimação, realizados, segundo HONEGGER (1978), desde 1920, constitui em fortes ameaças a este grupo. Segundo DODD (1987) que copilou dados estatísticos das cinco espécies mais comumente exploradas para os Estados Unidos, três delas (Boa constrictor, Eunectes murinus e Eunectes notaeus) fazem parte da fauna brasileira. HEMLEY (1983) afirma que, em 1982, produtos oriundos de Boa constrictor renderam mais de 813 mil dólares em três meses.

            Mas por que devemos nos preocupar em preservar as serpentes se, segundo a maioria de nossa população, estes animais só servem para causar graves acidentes a humanos e a animais domésticos? Na realidade, cerca de 20% dos acidentes provocados pelas espécies peçonhentas não levam a envenenamento e em 50% dos acidentes em que há envenenamento, a vitima escapa com leves ou mesmo nenhum problema. Além disso, segundo MÉIER (1990), com base em estatísticas internacionais, a mortalidade devido a picadas de serpentes é menor que 10% e quando são tomados os cuidados médicos específicos este porcentual cai para menos de 1%. Afinal, ainda poderíamos questionar: podem as serpentes ter alguma utilidade para o homem? Em nada adiantaria a justificativa de que são elas que oferecem o veneno para a produção dos soros que representam até o presente, o único tratamento cientificamente indicado para acidentes por serpentes peçonhentas. Pois ainda teríamos argumentos de que, se não existissem as serpentes não aconteceriam os acidentes ofídicos. Poderíamos até, na tentativa de justificar algumas utilidades das serpentes, referir-nos ao tão decantado papel que estes animais ápodos teriam na natureza, principalmente como predadores de animais nocivos ao homem, como p. ex., certos roedores. Embora muitas cobras se alimentem destes animais, segundo PORTER & TRACY (1964), para que as serpentes tenham impacto significativo sobre as populações de suas presas, seria necessário que os níveis da biomassa daqueles predadores se aproximassem soa níveis dos animais predados.

            Todavia, acreditamos que somente as já conhecidas utilidades medicas de algumas das mais de 400 proteínas isoladas até o presente dos venenos das serpentes, justificariam a afirmativa de que estes animais devem ser preservados. Daí é que, com base na obra editada por LEE (1979), e principalmente apoiados em KINICHI & ISHIMARU (1990), MARKLAND (1990), MEBS (1990), STOCKER (1990 a), STOCKER & MÉIER (1990) e VOGT (1990), supomos valido compilar alguns dados sobre o uso das proteínas dos venenos das serpentes em beneficio dos seres humanos.

José Roberto Cruz
Chefe - Núcleo de Proteção Ambiental NPA

Nenhum comentário:

Postar um comentário