sexta-feira, 10 de julho de 2015

O colapso dos grandes herbívoros

01 de julho de 2015

Cerca de 60% das 74 espécies de mamíferos terrestres com 100 kg ou mais estão ameaçadas de extinção e as consequências para o ecossistema serão grandes. A única representante brasileira é a anta (foto: Mauro Galetti)
Karina Toledo | Agência FAPESP – De acordo com uma revisão publicada recentemente na revista Science Advances, 60% das espécies remanescentes de grandes mamíferos herbívoros – aqueles com massa corporal igual ou maior que 100 quilogramas – correm risco de extinção. Quase todas as populações ameaçadas estão nas nações em desenvolvimento.
Os dados são da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) e foram levantados por cientistas de vários países, sob coordenação de William Ripple, da Oregon State University, nos Estados Unidos. Entre os autores está o pesquisador brasileiro Mauro Galetti, do Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro.
“Lugares como a savana africana estão se tornando paisagens vazias e isso não é apenas uma questão ética ou estética. Afeta o funcionamento dos ecossistemas naturais. Todas essas espécies desempenham funções ecológicas importantes e, se elas desaparecerem, ninguém conseguirá substituí-las”, disse Galetti em entrevista à Agência FAPESP.
Das 74 espécies de mamíferos terrestres que compõem o grupo dos grandes herbívoros, 71 ocorrem em países em desenvolvimento e somente 10 nos países desenvolvidos. A única representante brasileira no grupo é a anta (Tapirus terrestres), que pode chegar a 300 kg e também está sob ameaça de extinção.
De acordo com o artigo, os grandes herbívoros ocupam atualmente, em média, apenas 19% das suas áreas de ocorrência históricas. “Isso é exemplificado pelo elefante (Loxodonta africana), pelo hipopótamo (Hippopotamus amphibius) e pelo rinoceronte negro ocidental (Diceros bicornis), que hoje ocupam pequenas frações de suas áreas históricas na África. Além disso, muitas dessas espécies em declínio são pouco conhecidas cientificamente e necessitam seriamente de pesquisas ecológicas de base”, ressaltam os pesquisadores.
Também no caso da anta, disse Galetti, a área de ocorrência vem encolhendo nos últimos anos. Os cientistas não sabem ao certo qual é o tamanho da população remanescente no país. “Originalmente, a anta era encontrada em praticamente todos os biomas brasileiros, mas hoje já há vários lugares da Mata Atlântica em que ela desapareceu. As causas principais são a caça ilegal, o desmatamento, a expansão agrícola e atropelamentos”, afirmou.
A caça, a expansão da pecuária e as mudanças no uso da terra – que incluem perda de habitat, invasão humana (como construção de estradas), plantações e desmatamento – são apontadas no artigo como as principais ameaças para os grandes herbívoros. A vulnerabilidade desses animais é agravada pelo fato de se reproduzirem lentamente.
A caça ilegal voltada à obtenção de partes valiosas do corpo, como, por exemplo, presas e chifres, tem causado um declínio dramático na população de elefantes e rinocerontes em partes da África e na Ásia Meridional, revertendo décadas de esforços de conservação, disse o artigo.
A perda de habitat é uma ameaça significativa principalmente na América Latina, na África e no sudeste da Ásia e, segundo os autores, a causa tem origem nos países desenvolvidos e em sua demanda por produtos agrícolas e outras commodities.
“O Sudeste da África tem a maior taxa de desmatamento nos trópicos e, se o ritmo se mantiver, a região poderá perder 75% de suas florestas originais e quase metade de sua biodiversidade até o fim deste século”, ressaltaram os cientistas.
No caso da América do Sul, o processo de defaunação pode ter tido início há 10 mil anos, coincidindo com a chegada do homem ao continente. “Havia espécies de preguiça gigantes, tatus do tamanho de um fusca e outras menos conhecidas, mas a região já foi transformada em uma paisagem vazia. Há uma controvérsia na literatura científica sobre a principal causa ter sido o clima ou as ações humanas. Os impactos para o ecossistema estão só começando a ser compreendidos”, disse Galetti.
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