Várias espécies de aves, mamíferos e répteis se alimentam de anfíbios. Em algumas delas, os anfíbios são o principal item de suas dietas. Por isso, os anfíbios são predados em várias fases de suas vidas, conforme será comentado a seguir.
5.1 Predadores de ovos
As desovas são avidamente consumidas por saracuras, conforme observado na espécie Saracura-do-mato (Aramides saracura), que se alimenta dos ovos da perereca Filomedusa (Phyllomedusa distincta) e das desovas em espuma das rãs, tais como Rã-bugio (Physalaemus olfersii), Rãzinha-foi-não-foi (Physalemus cuvierei) e Rã-comum (Leptodactylus ocellatus). Já as desovas dos sapos (que são em forma de cordão de gel) e das pererecas (película de gel sobre a superfície da água), são devoradas pelo Camarão-de-água-doce. Certas espécies de besouros, formigas e outros insetos também são predadores das desovas dos anfíbios.
Figura 5.1 - Saracura-do-mato (Aramides saracura).
Ovos das rãs e girinos fazem parte do seu cardápio. |
Figura 5.2 - Camarão-de-água-doce: predador de ovos dos anfíbios
|
Predadores de girinos
Os inimigos naturais dos girinos vêm pelo ar (aves), terra (mamíferos) e água (répteis, peixes e invertebrados), conforme exemplos apresentados a seguir.
Os girinos sofrem predação de aves como o Martin-pescador-pequeno (Chloroceryle americana), Martin-pescador-grande (Ceryle torquata), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), Saracura-do-mato (Aramides saracura), Saracura-três-potes (Aramides cajanea), entre outros. Mamíferos, como o Mão-pelada (Procyon cancrivorus), também se alimentam de girinos da espécie Rã-do-riacho (Hylodes perplicatus). Os girinos desta espécie se desenvolvem em pequenos riachos, de leito rochoso e com água bem cristalina, na Serra do Mar e adjacências do norte de Santa Catarina. Levam mais de um ano para completarem seu desenvolvimento. O Mão-pelada cerca os girinos, acuando-os. Não adianta eles se refugiarem: o Mão-pelada tem uma incrível habilidade com as mãos, com as quais tateia embaixo das pedras e nas fendas, até capturá-los.
Figura 5.3 - Mão-pelada (Procyon cancrivorus) alimenta-se de girinos e anfíbios adultos. Nesta foto, ele caça girinos e outros animais aquáticos. Além de anfíbios, ele aprecia muito os caranguejos.
|
Os girinos também sofrem a predação de répteis, como a Cobra-d'água (Helicops carinicaudus) e o Cágado (Hidromedusa tectifera).
Figura 5.4 - Cobra-da-água (Helicops carinicaudus) se alimenta de girinos, especialmente quando eles estão bem desenvolvidos, prestes a deixar a vida aquática, ou seja, quase completando a metamorfose. Durante as horas mais quentes do dia, esta espécie de cobra d´água costuma sair da água e tomar sol sobre a vegetação às margens das lagoas, como mostra a foto.
|
Figura 5.5 - Cágado (Hidromedusa tectifera): espécie de tartaruga de água doce que tem muita habilidade para capturar girinos.
|
Muitas espécies de peixes são também predadoras de girinos. Porém, no processo evolutivo, os girinos desenvolveram várias estratégias que lhes assegura uma relativa proteção contra os peixes nativos (que pertencem à nossa fauna). Entretanto, quando são introduzidos peixes de outros países (espécies exóticas como tilápia, bagre-africano, catfish, truta, etc.), os girinos não têm chance alguma de defesa. Eles os devoram de forma insaciável, provocando seu extermínio. Vale ressaltar que a criação dessas espécies está causando um grande dano à biodiversidade de anfíbios em várias regiões do país. Animais invertebrados aquáticos também são predadores naturais de girinos. Exemplos: Barata-d'água, ninfa de Libélula, Caranguejo, Camarão-de-água-doce, etc. É importante lembrar que predadores naturais não causam problemas para as espécies em ecossistemas equilibrados. Isso faz parte da natureza!
5.3 Predadores de anfíbios jovens
Quando saem da água para iniciarem a vida em terra firme, as rãzinhas ou sapinhos sofrem uma predação muito intensa de aves, como o Sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris) e outros.
5.4 Predadores de anfíbios adultos
Na fase adulta, os anfíbios sofrem predação de várias espécies de aves, como o Tinguaçú (Attila rufus), Surucuá-de-peito-azul (Trogon surrucura), Anu-preto (Crotophaga ani), Anu-branco (Guira guira), Garça-branca-grande (Casmerodius albus), Inambu-guaçú (Crypturellus obsoletus), Inambu-xororó (Crypturellus parvirostris), etc.
Figura 5.6 - Surucuá-de-peito-azul (Trogon surrucura) faz a
predação da Perereca-araponga (Hypsiboas albomarginatus). |
Figura 5.7 - Surucuá-de-peito-azul (Trogon surrucura), macho, alimentando seus filhotes com a Perereca-araponga (Hypsiboas albomarginatus), capturada nas copas das árvores.
|
O Surucuá faz seu ninho em cupinzeiros arborícolas. A tarefa de escavar uma cavidade fica por conta do macho. O casal se reveza para chocar os ovos e alimentar os filhotes e nidifica (se reproduz) duas vezes ao ano. Nos primeiros dias de vida, os filhotes são alimentados com Lagartas, Grilos, Bicho-folha, Bicho-pau, Cigarras, etc. Quando já estão bem desenvolvidos, quase prontos para deixar o ninho, pererecas (que antes têm seus ossos triturados pelo bico dos pais) entram no cardápio.
Os anfíbios adultos também são o alimento de muitas espécies de répteis como Cobras, Lagartos e Cágados.
Figura 5.8 - Jararaca (Bothrops jararaca): as cobras jararacas se alimentam de anfíbios adultos.
|
Várias espécies de mamíferos também incluem os anfíbios em sua dieta. Dentre inúmeros exemplos, podemos citar: Morcegos (de várias espécies), Mão-pelada (Procyon cancrivorus), Quati (Nasua nasua), Lontra (Lutra longicaudis), Furão (Galictis cuja), Irara (Eira barbara), Jaguatirica (Felis pardalis), Gato-do-mato (Felis tigrina), Gato-do-mato-maracajá (Felis wiedii), Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) e o Graxaim ou Cachorro-do-campo (Dusicyon gymnocercus).
O Mão-pelada não despreza nem os sapos, mas evita comer o couro e as glândulas parotóides (aquelas bolsas nas laterais da cabeça), pois contêm um líquido leitoso (em maior quantidade nas glândulas parotóides) que provoca uma forte irritação quando em contato com a mucosa da boca dos predadores. É a defesa do sapo, mas não funciona no caso de predadores como o Mão-pelada.
Figura 5.9 - Sapo que serviu de alimento para o Mão-pelada, provavelmente: a cabeça e a pele foram descartadas por causa do “leite”, que irrita a boca do predador.
|
Figura 5.10 - Mão-pelada (Procyon cancrivorus) costuma freqüentar os banhados e tem certa habilidade para subir em árvores.
|
Figura 5.11 - O Furão (Galictis cuja) se alimenta de rãs adultas. |
Figura 5.12 - Gato-do-mato-maracajá (Felis wiedii) inclui anfíbios em sua dieta, embora ele aprecie mais as aves. |
Figura 5.13 - Irara (Eira barbara) |
fonte
http://www.ra-bugio.org.br/anfibios_sobre_05.php
Nenhum comentário:
Postar um comentário