Por Mateus Campos
Notícia publicada pelo site do jornal O Globo destaca mapeamento do Museu de Zoologia da USP que indica que as cobras perderam 80% de seu território nos últimos 30 anos por conta da urbanização e da agropecuária
Animais tiveram seu ambiente natural reduzido a 20% nos últimos 30 anos, segundo biólogo especialista
RIO - Autor do “Atlas das serpentes do Brasil”, que detalha a distribuição geográfica das 380 espécies encontradas no país, o biólogo Cristiano Nogueira faz um alerta. Segundo ele, cujo trabalho de mais de quatro anos deve ser publicado oficialmente no ano que vem, as cobras perderam 80% de seu território nos últimos 30 anos por conta do avanço da urbanização e da agropecuária. Em dez anos, algumas delas podem até ser extintas. Outras se tornaram mais urbanas.
A diminuição da diversidade traz problemas práticos. Como os ofídios são os predadores naturais de ratos e sapos, o risco de desequilíbrio é grande. O ritmo das mudanças preocupa.
— As modificações acontecem de maneira acelerada. Em algumas áreas, algumas espécies tiveram seu habitat bastante reduzido em dez anos. Do ponto de vista biológico, é pouco tempo. Com o “Atlas”, estratégias de preservação podem ser elaboradas. Ele mostra onde estão as regiões prioritárias para conservação dos habitats — explica ele, que lidera uma equipe do Museu de Zoologia da USP.
Espécies como a jararaca Bothrops itapetiningae, que já ocupou um território que ia de São Paulo até Goiás; jararaca de Murici (Bothrops muriciensis), isolada nas matas da cidade alagoana e a jararacuçutapete (Bothrops pirajai), que vive na Bahia, correm real perigo, conforme mostra a edição de janeiro da revista “Pesquisa Fapesp”.
Nogueira explica que a região Sudeste, a mais povoada do Brasil, também é a área com maior incidência de espécies e linhagens. O contato entre as serpentes e a população traz outro problema: a perseguição humana.
Guardaparques do Parque Estadual da Pedra Branca, na zona urbana do Rio, o biólogo Felipe Tubarão participa de uma equipe de resgate que atende chamados de moradores que se deparam com serpentes em seu jardins. Segundo ele, o desconhecimento faz com que muitas pessoas matem os animais.
— De fato, é um trabalho bem difícil. Exige uma conscientização enorme das pessoas. Muitas delas tendem a matar esses animais. E, na maioria das vezes, eles não são nem venenosos. Trabalhamos no plano imediato: quando esses animais são encontrados nas casas e quintais da pessoas. As ligações têm aumentado muito nos últimos tempos — explica Tubarão.
Para elaborar o “Atlas das serpentes do Brasil”, Nogueira contou com a ajuda de especialistas de diferentes partes do Brasil, que analizaram mais de 100 mil registros de coletas de espécies. Alguns dados foram coletados há mais de 250 anos. O desafio, segundo ele, foi refinar as informações.
— Foi uma tarefa difícil reunir esse conjuto. Tudo estava muito disperso. Algumas informações estavam incompletas e foi preciso corrigir alguns erros. Foi um trabalho meticuloso de análise dos dados brutos das coleções científicas. Sem a ajuda dos colaboradores, do Norte ao Sul do país, seria impossível.
Para ele, a divulgação dos mapas ajuda a chamar a atenção para o problema, que deve ser encarado com seriedade pelas autoridades.
— O poder público é um mosaico de interesses. Existem forças interessadas na preservação, e existem outras, antagônicas, que trabalham pela expansão da política agrícula. Com as informações nas nossas mãos, podemos reduzir os conflitos. Sem elas, a gente acaba fazendo um voo cego.
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ESPÉCIES AMEAÇADAS
Bothrops itapetiningae
A espécie deve ocupar 20% do território que já ocupou. Há 30 anos, sua área se estendia desde São Paulo até Goiás. Perdeu espaço para a urbanização e para a agricultura. Mede entre 40 a 60 centímetros e é a menor das jararacas.
Bothrops muriciensis
Conhecida como jararacadeMurici, a espécie só é encontrada nas imediações da Estação Ecológica Murici, em Alagoas. Descoberta em 2001, a espécie corre sério risco: está criticamente ameaçada de extinção. Além do desmatamento, a serpente é submetida à pressão de predadores humanos, que costumam temer seu perigoso veneno. Ela mede cerca de 80 centímetros.
Bothrops pirajai
A jararacuçutapete foi descrita pela primeira vez em 1932, por Afrânio do Amaral. Mede por volta de 95 centímetros e só pode ser encontrada na Bahia. Robusta, tem hábitos noturnos. É rara e ameaçada de extinção.
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