terça-feira, 6 de outubro de 2015

Biocurativo usa sangue e veneno de cobra para super cicatrizante

Pesquisadores da Unesp de Botucatu e Bauru desenvolvem dois tipos de medicamentos para tratamento de feridas crônicas com um custo mais em conta para os pacientes


04/10/2015
Divulgação
O sangue e seus derivados são processados para ser utilizado em uma pomada

Uma pomada produzida a partir do sangue humano e um selante de fibrina derivado de veneno de serpente estão sendo estudados por pesquisadores da Unesp de Botucatu e Bauru. Ambos querem colocar fim a um drama que atinge milhões de pessoas em todo o Brasil: possuir uma ferida que não cicatriza.


A ferida que vaza e produz mal cheiro é um item que causa a exclusão social de muitas pessoas e vem sendo estudada há anos. Medicamentos comerciais importados prometem curar, mas o tratamento é fora do orçamento da grande maioria dos pacientes. Para atender essas necessidades, o biocurativo e o selante que usam tecnologia brasileira surgem como alternativa mais acessível.



O biocurativo na verdade são curativos biológicos produzidos a partir do plasma fresco congelado e concentrado de plaquetas, obtidas a partir do sangue de doadores do Hemocentro de Botucatu. Com duas formas farmacêuticas: emulgel e laminar são indicados para o tratamento de feridas crônicas em todas as fases de processo de cicatrização.



A pesquisa é desenvolvida pela doutora em farmácia Rosana Rossi Ferreira do Departamento de Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências da Unesp de Bauru em conjunto com a professora doutora e médica da Faculdade de Medicina de Botucatu Elenice Deffune. “É uma pesquisa translacional na área de biotecnologia”, explica a farmacêutica.



O biocurativo é indicado para as úlceras venosas, úlceras arteriais, úlceras por pressão, pé diabético e deiscência cirúrgica. Recentemente, a Agência Unesp de Inovação fez o pedido de patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI). “Após o registro da patente, vamos partir para uma nova fase da pesquisa”, comenta a farmacêutica.



O tratamento de úlceras venosas com o selante de fibrina - derivado de veneno de serpente - é uma pesquisa desenvolvida desde 1989 pelo Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos da (Cevap) da Unesp. É um produto brasileiro e seu custo permitirá o uso na rotina dos hospitais, além de ser mais acessível pela população menos favorecida.



O selante é constituído de fibrinogênio extraído de grandes animais e de uma enzima obtida a partir de veneno de serpente. A não utilização de sangue humano na sua composição, segundo o estudo, evita a transmissão das doenças infecciosas. O produto já foi experimentado em animais e seres humanos.



Em 2009, os pesquisadores trataram 25 pacientes com úlceras crônicas e concluíram: o selante é adequado para tratamento de úlceras de perna, é mais econômico que o disponibilizado no mercado. Apresenta ainda as seguintes vantagens: facilidade de aplicação, tendência para o preparo do leito e diminuição da dor. O emprego semanal, durante pelo menos oito semanas, poderá melhorar o processo da cicatrização e aumentar os índices de cura.



A pesquisa entra agora em uma fase de testes humanos com a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para registro do produto. Serão selecionados 40 pacientes com úlcera venosa crônica nas pernas para participar desta etapa. O projeto de pesquisa clínica e tecnológico multi-institucional, engloba oito centros brasileiros de pesquisa clínica.


Derivado de veneno de cobra é um selante

Bioproduto auxilia na cicatrização de feridas e foi criado a partir da mistura de uma enzima do veneno da cascavel com fibrinogênio de sangue de búfalos
Divulgação
Enzima extraída do veneno da cascavel está sendo pesquisada em cicatrizante de feridas
O selante de fibrina foi criado a partir da mistura de uma enzima extraída do veneno da cascavel com fibrinogênio de sangue de búfalos. Foi desenvolvido pelo Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (Cevap) da Faculdade de Medicina de Botucatu para auxiliar na cicatrização de feridas.


O diretor do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos e responsável pela produção do selante, professor Rui Seabra Ferreira Filho, enfatiza que o selante de fibrina foi desenvolvido em substituição ao sangue humano, usado no produto comercial. “Os selantes comerciais atuais são todos importados. Nós desenvolvemos um com tecnologia 100% nacional.”



Para ele, isto é sinônimo de domínio. “Significa que temos o domínio de uma tecnologia até então importada o que gera produtos caros, inacessíveis aos pacientes. Uma dose de selante comercial hoje, custa em torno de US$ 140. O nosso é bem abaixo disso. Os nossos estudos exigem de uma a três doses semanalmente durante três meses, dependendo do tamanho da ferida. Algumas são maiores e exigem mais doses.”



O bioproduto já foi testado em paciente humanos, porém em estudos acadêmicos. “Estamos na fase dos estudos com autorização da Anvisa para registro do produto. A partir do registro do produto, ele poderá ser comercializado. Após a primeira fase de estudos com o selante de fibrina derivado de veneno de serpente, a Faculdade de Medicina de Botucatu da Unesp, por meio de sua Unidade de Pesquisa Clínica (Upeclin) dará início a segunda fase. Serão selecionadas 40 pessoas com úlcera venosa crônica nas pernas para participar desta etapa.”



Ele explica que um dos diferenciais é que o selante de fibrina comercial é de origem humana e não estimulam a cicatrização tão bem como o de origem animal. “O nosso produto está mais apto para esse tipo de curativo. O estudo será avaliado pela Anvisa no quesito segurança do produto no processo de cicatrização de úlceras venosas. Eles vão avaliar se realmente ele é eficaz. Para isso precisaria de número maior de pacientes que agora vão ser 60 a 80 pacientes. Isso precisa ser feito em uma unidade de pesquisa clínica com critérios mais rígidos, apesar de termos testado.”



Serão realizados curativos semanais com aplicação do produto, que é semelhante a um gel, sobre a ferida e a bota de Unna. Nos estudos anteriores o selante demonstrou ser um produto seguro. Na última fase, houve cicatrização em 38,8% das úlceras e melhora em 33,3%, totalizando melhora significativa em 72,1% dos casos.


Ao contrário do que muitos pensam, as úlceras não são “privilégios” dos idosos, enfatiza o pesquisador. “São milhares de brasileiros que sofrem com úlceras de difícil cicatrização. É difícil porque tem os agravantes. Pacientes com diabetes, com problemas circulatório, vários agravantes que dificultam a cicatrização das úlceras. Normalmente causa um problema social. Muitos pacientes de origem muito humilde não têm condições de trocar o curativo semanalmente. Essas úlceras vazam, cheiram mal e as pessoas são afastadas do convívio familiar. Não são só idosos. Tem jovens também. Nada relacionado a idade.”

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