domingo, 24 de agosto de 2014

Lenda da Cobra Grande (Indígena)



Um dos mitos do Amazonas, que aparece sob diferentes feições. Ora como uma cobra preta, ora como uma cobra grande, de olhos luminosos como dois faróis. Os caboclos anunciam sua presença nos rios, lagos, igarapés e igapós com a mesma insistência que os marinheiros e pescadores da Europa acreditam no monstro de Loch-Ness.
A imaginação amazônica, mais floreada e portentosa, criou para o nosso mito propriedades fantásticas: a boiúna pode metamorfosear-se em embarcação de vapor ou vela e ir da forma de ofídio à navio, para mais trair e desorientar as suas vítimas. Esta cobra, possui diferentes formas encantatórias, conformes dados colhidos entre a população ribeirinha. 
Acreditam até, que alguns igarapés foram formados pela sua passagem que abre grandes sulcos nas restingas, igapós e em terra firme.
Na Amazônia, ela toma diversos nomes: Boiúna, Cobra Grande, Cobra Norato, Mãe D Água, entre outros, mas independentemente de seu nome, ela é a Rainha dos rios Amazônicos e suas lendas podem ter surgido em virtude do medo que provoca a serpente d água, que devora o gado que mata a sede na beira dos rios.
A Cobra-Grande ou a Boiuna, sobe os rios, entra nos igarapés, devassa os lagos, onde cantam a sua área de beijos os nenúfares opalizados pela luz do luar, transformada em majestoso, todo iluminado e fascinante, que atrai o caboclo extasiado pela sua irradiosa aparição.
Em mitos e crenças antigas, era muito comum a afirmação de que as cobras buscavam as mulheres para engravidá-las e acreditava-se também, que a partir da primeira menstruação, as jovens índias virgens estavam particularmente sujeitas a atraírem "o amor de uma serpente", por este motivo, elas evitavam de irem ao mato ou a beira de um rio, quando menstruadas.
A Cobra Grande ou Boiuna é vista à noite, iluminando os remansos dos rios com a fosforescência dos seus olhos constantes. Transforma-se, muitas vezes, em um veleiro, que apresenta uma luz da vermelha à bombordo e outra verde à boreste. que confunde os incautos e desce silenciosamente a torrente dos igarapés. Aí daquele que se aproximar desta forma enganosa, pois estará sujeito a ser arrebatado às profundezas do rio, para nunca mais retornar.
Segundo Letícia Falcão, "nos rios Solimões e Negro, a Cobra Grande nasceu do cruzamento de uma mulher com uma assombração (visagem), ou de um ovo de mutum; no Acre, a entidade mítica transforma-se numa linda moça, que aparece nas festas de São João para seduzir os rapazes desavisados. Outra lenda diz que uma linda índia cunhãmporanga, princesa da tribo, ao apaixonar-se pelo Rio Branco (Roraima), foi transformada numa imensa cobra chamada Boiúna, pelo enciumado Muiraquitã." Mas também, segundo esta autora, há uma versão em que transforma a Cobra Grande como uma "benfeitora na navegação", cujos olhos iluminados como dois faróis, auxiliam os navegadores em noites escuras e em meio à tempestades.

A LENDA DA COBRA NORATO

Em uma tribo indígena da Amazônia, uma índia fica grávida de uma Boiuna (do Tupi Mboi, cobra, e Una, prata). Seus filhos eram gêmeos e vieram ao mundo na forma de duas serpentes negras. A tapuia então batizou-os com os nomes de Honorato e Maria.
Os gêmeos, embora gerados no mesmo ventre, ao serem jogados no rio e mesmo desenvolvendo-se em condições semelhantes, acabam desenvolvendo modos diferentes de conduta. Honorato era Bom, mas sua irmã era muito perversa. Ela alagava embarcações, matava náufragos, atacava os pescadores e feria os peixes pequenos, tais maldosos feitos, levou Honorato à matá-la. Deste modo, o bem supera o mal e Honorato torna-se um herói.
Honorato, em algumas noites de luar, perdia o seu encanto e adquiria a forma humana transformando-se em um lindo rapaz, que deixava as águas e levava uma vida normal na terra. Para que se quebrasse este encanto de Honorato, era preciso que alguém de muita coragem derramasse leite de mulher na boca da enorme cobra, e fizesse um ferimento com aço virgem na sua cabeça até sair sangue. Ninguém tinha tamanha coragem para enfrentar este enorme monstro. Até que um dia um soldado de Cametá (município do Pará), conseguiu libertar Honorato desta maldição.
Honorato, cobra e rapaz, nada mais é do que a extensão de nós mesmos, em nossa condição de animais-transcendentais, pois por trás de cada monstro, sempre há um herói.
Nesta lenda que relata a metamorfose de Honorato, visualizamos a metáfora que retrata a vida cotidiana de um povo ribeirinho, que como homem-cobra, oscila vivendo em meio a uma terra úmida ou engolido pelas cheias e correntezas do rio. Terra e Água, estão na alma, nas lendas, nos mitos e na fé deste homem. Ser um pouco cobra e um pouco homem, são símbolos de uma mesma vida...
Certo mesmo, é que a Boiúna ou Cobra Grande, Mãe de todas as águas da bacia amazônica, soberana dos lagos e igarapés, das enseadas, dos furos e dos paranás, das vertentes e desaguadouros, nada e vigia de um extremo ao outro.
Quando se ouve um ronco longínquo, arrepia-se até o último fio de cabelo, pois seu uivo horripilante tem o poder de paralisar homens e animais. Boiúna entretanto, segue em sua peregrinação fatídica, matando e devorando os animais, alagando as pequenas embarcações e sorvendo vampiricamente a vida dos velhos.
"Nos quartos minguantes, quando a lua recorda um batel de prata, logo depois das doze badaladas, a boiúna reponta nos moldes bizarros de uma galera encantada, guinda alta, velas pandas, singrando e cruzando as baías. O pano desse navio macabro é feito de mil despojos fúnebres. A giba, a vela de proa, a vela grande, a bujarrona, o velacho, o traquete, a gávea, o joanete, a rebeca são camisas, véus, lençóis, mortalhas sambenitos remendados, costurados, cerzidos, sinistro sudário de milhões de covas; os mastros, as vergas, as caranguejas são tíbias, fêmures, costelas de esqueletos fugidos das campas; as borlas dos topes são caveiras amarelada de pecadores impenitentes; os estais, as enxárcias, as adriças, os brandais são cabelos de defuntos roubados por Satanás.
E sobre tudo isto uma linha azulada de fogo, santelmo ou fátuo, que recorda, ao palor mortiço de chamas funéreas, a árvore da embarcação levantada para a fuligem escura do céu. Veleira, deitada na bolina sobre uma das amuras, querena ao léu, ninguém a pega. Sempre das investidas arriscadas, a galera-fantasma colhe as asas de grande ave bravia, orça, muda de rumo e, voando com a rapidez da hárpia, deixa na esteira alva a espuma lampejante de enxofre luciferiano. É uma visão provinda com certeza do seio ígneo de Plutão. Quem a vê fica cego, quem a ouve fica surdo, quem a segue fica louco."

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fonte:http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/literatura-infantil-lendas-e-mitos-do-folclore/a-lenda-da-cobra-grande.php

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