A dor é um dos principais problemas para a qualidade de vida de um paciente com câncer. Mas existe a possibilidade de desenvolver-se um remédio a partir de uma fonte que pode parecer improvável, revela tese defendida no programa de pós-graduação em Medicina Molecular da Faculdade de Medicina daUFMG.
A farmacêutica Flávia Karine Rigoconseguiu reverter em 100% a dor associada ao câncer em camundongos usando uma toxina retirada do veneno daaranha Phoneutria nigriventer, popularmente conhecida como armadeira. Além disso, foram observados menos efeitos colaterais do que com o uso de outro medicamento similar.
Segundo a autora da tese, o tratamento com essa toxina, chamada Phα1β, é uma segunda linha no combate às dores no câncer. “Ela se inclui num grupo de medicamentos utilizados quando o paciente deixa de responder ao tratamento inicial, principalmente por meio de morfina”, afirma Flávia. Nos testes, a Phα1β produziu uma redução de longa duração, até seis horas, das alterações na percepção da dor causadas pelo câncer. E se manteve eficaz mesmo em animais que já haviam adquirido tolerância à morfina.
A principal diferença dessa toxina para os medicamentos já utilizados, no entanto, é a ausência de efeitos colaterais. “A ziconotida, que foi usada como comparativo no estudo, pode causar ataxia [incapacidade de coordenação dos movimentos musculares voluntários], sonolência e tremores no corpo, dentre outros problemas”, explica a autora. Por todos esses motivos, a Phα1β se mostrou uma opção viável.
No entanto, para começar o caminho até os pacientes é preciso primeiro sintetizar a toxina. Como ela ainda é apenas natural, produzir o medicamento exige a retirada manual do veneno da aranha. “Mas já existem estudos sendo feitos para descobrir a estrutura da toxina e levar à produção de uma forma sintética”, explica Flávia. Apenas após esse passo será possível partir para outra fase de testes e iniciar o processo que pode resultar na disponibilidade do medicamento para os pacientes.
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