quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O MEDO NÃO JUSTIFICA A MORTE

     Desde a antiguidade, as serpentes têm fascinado a humanidade, tanto com o medo quanto com a veneração. A própria Bíblia, utiliza a cobra como representação do mal. Alguns pesquisadores como WILSON (1984) chegaram mesmo a pensar na ofidiofobia como um produto da própria evolução humana. A intensa sensação provocada nos seres humanos foi salientada por MORRIS & MORRIS (1965), ao se referirem às afirmativas de 11.960 crianças que responderam a um questionário da televisão da Grã Bretanha, no qual se indagava quais os animais de que menos gostavam; 27% das crianças citaram as cobras.

     DOOD (1987), baseado nos registros da literatura especializada, revela que 186 espécies e subespécies de serpentes estão ameaçadas ou necessitam de conservação ou manejo. Segundo WILCOX & MURPHY (1985), a maior ameaça às serpentes é a destruição de seu habitat, o que resulta na eliminação física tanto dos animais como de seus ecossistemas. Com a fragmentação das populações restantes que tem seus tamanhos reduzidos, há perda potencial de sua diversidade genética. O comércio internacional destes animais, para fabricação de souvenirs, ou ainda sua venda como animais de estimação, realizados, segundo HONEGGER (1978), desde 1920. Segundo DODD (1987) copilou dados estatísticos das cinco espécies mais comumente exportadas para os Estados Unidos. Três delas (Boa constrictor, Eunectes murinus e Eunectes notares) fazem parte da fauna brasileira. HEMLEY (1983) afirma que, em 1982, produtos oriundos de Boa constrictor renderam mais de 813 mil dólares em três meses. 

     Segundo a maioria de nossa população, serpentes só servem para causar acidentes em humanos e animais domésticos. Na realidade cerca de 20% dos acidentes provocados pelas espécies peçonhentas não levam a envenenamento e em 50% dos acidentes em que haja envenenamento, a vítima escapa com leves ou mesmo nenhum problema. Segundo MÉIER (1990), com base em estatísticas internacionais, a mortalidade devido à picada de serpentes é menor que 10% e quando são tomados os cuidados médicos específicos cai para menos que 1%. Em nada adiantaria justificar que são elas que oferecem o veneno para produção de soros antiofídicos, único tratamento cientificamente indicado para acidentes por serpentes peçonhentas, pois ainda teríamos o argumento de que, se não existissem as serpentes não aconteceriam acidentes ofídicos. Poderíamos até, na tentativa de justificar alguma utilidade das serpentes, referi-las como predadores de animais nocivos ao homem, como roedores, embora muitas cobras alimentem-se destes animais. Segundo PORTER & TRACY (1964), para que as serpentes tenham impacto significativo sobre as populações de suas presas, seria necessário que os níveis da biomassa daqueles predadores se aproximassem dos níveis dos animais predados.

     Todavia, acreditamos que somente as utilidades médicas de algumas das mais de 400 proteínas isoladas até o presente dos venenos das serpentes, justificariam a afirmativa de que estes animais devem ser preservados.

     A Constituição Brasileira e as Leis Ambientais do Brasil são claras em todos os aspectos, protegendo, restaurando e conservando todos os recursos naturais em nosso território, dando o direito a todos, de ter um meio ambiente equilibrado, e fiscalizando as entidades de pesquisa e manipulação de material genético.

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